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O Silêncio do Céu – (Era El Cielo)
O Silêncio do Céu – (Era El Cielo)

O Silêncio do Céu – (Era El Cielo)

O Silêncio do Céu – Papo de Cinema

O Silêncio do Céu – (Era El Cielo).

Lançamento: 2016, do diretor Marco Dutra.

Plataforma Disponível: Netflix

Tabela de Conteúdos

Enredo

Ao chegar em casa no meio da tarde, o roteirista Mário (Leonardo Sbaraglia). Testemunha uma violação contra sua esposa Diana (Carolina Dieckmann) por dois homens desconhecidos.

Oprimido, ele fica perplexo e não toma nenhuma atitude. Diana, sem saber que ele viu o crime, opta por manter tudo em segredo. O silêncio que cresce entre o casal nos dias que se seguem torna-se um tipo próprio de violência.

O diretor Marco Dutra fez uma escolha interessante ao inserir em seu longa um personagem roteirista.

Num filme em que, conforme o título indica, o silêncio prevalece, a construção dos personagens e de suas complexidades ajuda a dar ritmo para o clima tenso e difícil de ser encarado.

Uma das formas de filmar uma história é construindo personagens que quebrem a expectativa. Desta forma – sem nenhum spoiler já que está no trailer e a cena abre o filme – A protagonista Diana (Carolina Dieckmann) sofre um estupro.

Entre as inúmeras formas que cada vítima vivencia e reage a esse crime, Diana opta pelo silêncio.

Aqui cabe uma ressalva. Independente de como qualquer filme aborde o estupro e mesmo que cada pessoa tenha sua forma de reação. Uma violência sempre deve ser denunciada às autoridades. Por mais difícil, constrangedor e doloroso, o próprio filme indica a importância das primeiras horas após o ato, tanto para medidas jurídicas quanto para os exames necessários.

É compreensível que Diana tente seguir a vida como se nada tivesse acontecido. Existem fatores sociais que fazem algumas vítimas de estupro tentar ocultar o caso. A vergonha, o medo, o machismo que historicamente tenta culpar a vítima, o receio quanto à reação das pessoas próximas, etc.

Então, Quem é a Vítima?

A particularidade é que Mário (Leonardo Sbaraglia), o roteirista e marido de Diana, viu parte da cena.

Só não teve tempo de reagir nem atitude de falar abertamente sobre o fato. Aderiu ao silêncio da esposa, porém sem a menor pretensão de seguir a vida como se nada tivesse acontecido.

Diana é a única vítima da história. Essa observação poderia ser desnecessária, mas não podemos esquecer que durante muito tempo o estupro era visto como um crime contra a honra do marido.

Claro que Mário não seguirá sua vida normalmente e às pessoas próximas também se abre um leque de sentimentos e reações diante de um estupro, porém nem toda reação é justificável.

Parece existir um pacto silencioso entre o casal, no qual cada um busca indícios para decifrar sentimentos e mesmo uma construção de histórias paralelas, que se aproximam pelos fatos e se afastam pela vivência. Em outras situações o silêncio pode ser interessante em uma relação.

O mistério, a imaginação, as várias formas de expressão que podemos descobrir na ausência das palavras pode tornar o contato diário mais instigante e aumentar a cumplicidade de quem é capaz de trocar longas frases por um olhar.

Restringir toda a comunicação à fala é um grande passo rumo à monotonia. Por outro lado, restringir todas as reações da vida conjugal ao silêncio é um convite às interpretações, que quando seguem o exemplo e se mantêm em silêncio formam uma bola de neve. Algumas palavras seriam esclarecedoras, dialéticas para que ambos compreendessem um pouco mais sobre o que aconteceu e até mesmo sobre os próprios sentimentos.

As Emoções do Filme

A proteção oferecida por Mário é extremamente bem-vinda. Da menor injustiça à maior violência, qualquer vítima quer o amparo de alguém disposto a oferecer abrigo. O problema é que a tal honra masculina, que diferente do medo só tem amparo em padrões sociais, também grita no silêncio interno do marido.

Passado o estupro, as violências particulares se expressam de forma silenciosa e simbólica. Várias vezes os cactos cultivados na casa ganham notoriedade. A fragilidade de uma planta inerte contrastada com o poder de dano de seus espinhos sintetiza as tensões entre personagens.

Em aparente tranquilidade, todos no filme estão à beira de um ataque de nervos e prestes a utilizar seus espinhos contra qualquer toque. O silêncio do céu, explorado em vários planos longos e sem nenhuma trilha sonora, é complacente com os personagens silenciosos. A questão é que ele não oferece alternativas.

Até mesmo o roteirista, habituado a buscar alternativas aos seus personagens e a pesquisar na realidade as características que serão utilizadas na ficção. Parece não encontrar nenhuma alternativa racional que dê vazão ao turbilhão de sentimentos silenciados, mas nunca controlados.

Os medos, as angústias, as dúvidas e tantos outros sentimentos são abordados de formas diversas pelo cinema. Aqui o diretor opta pelo silêncio, que parece tão simples, tão contido, mas oferece as maiores complexidades.

Dependendo do contexto pode ser sedutor e misterioso, mas diante da ação e reação de uma violência acaba sendo acima de tudo perigoso.

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