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Narradores de Javé – Filme de 2003
Narradores de Javé – Filme de 2003

Narradores de Javé – Filme de 2003

Narradores de Javé – Filme de 2003.

Data de Lançamento: 23 de janeiro de 2004.

Gênero: Drama.

Duração: 1h 40m.

Direção: Eliane Caffé.

Disponível no Streaming: Youtube.

Tabela de Conteúdos

Sobre o Longa

O longa dirigido por Eliane Caffé mostra a história do pequeno povoado de Javé, prestes a ser inundado quando o governo da Bahia decide represar o rio para a construção de uma usina.

Dez anos após o lançamento do filme sua exibição se torna cada vez mais necessária em um país que sempre exaltou seu potencial hidrelétrico. Tudo isso ignorando os impactos sociais e ambientais gerados pelas imensas barragens necessárias para a construção das usinas.

Para tentar salvar o local, o povo de Javé, quase todos analfabetos, pensam em escrever um livro com as histórias locais, um registro supostamente científico, para que isso sirva de argumento e impeça a construção da barragem, já que só cidades com importância histórica são poupadas.

A transcrição das histórias, fica por conta de Antonio Biá, que além de saber escrever e vender, tem o dom da malandragem. A partir disso o filme segue como uma deliciosa comédia marcada por regionalismos e situações inusitadas dos moradores contanto histórias.

Divergências

Não obstante, a memória, como já dizia Walter Benjamin, é recomposta de forma única a cada vez que a invocamos e as acareações informais entre os moradores de Javé nunca chegam a um acordo sobre o que de fato aconteceu. A divergência em relação aos fatos é bastante natural, assim como a grandiosidade de tudo o que é contado.

O povo pode ser simples, sofrido e inculto pela óptica da cultura dominante, mas também têm ícones e histórias grandiosas. Algumas falaciosas como qualquer sociedade, pois isso ajuda a encobrir as mazelas, dando a cada indivíduo a sensação de ser indispensável. Antonio Biá procura fantasiar ainda mais os fatos narrados, criando fábulas a partir de fatos cotidianos. Pensando também em detalhes que poderiam beirar o realismo fantástico, tão bem narrados, apesar de não serem escritos.

As distorções nos fatos podem ser criticadas, afinal a ideia era fazer um relato científico, baseado no profissionalismo da ciência. Porém, se Biá cria fantasias sobre as histórias narradas, os interessados em inundar o local também apresentam dados de forma tendenciosa, omitindo problemas, minimizando impactos e vangloriando as vantagens de uma usina hidrelétrica em um local distante das grandes cidades.

Os Povos de Javé

Empunhando a bandeira do progresso e desenvolvimento, em detrimento de comunidades supostamente menores e menos importantes, defensores das usinas hidrelétricas atropelam detalhes primordiais. Por exemplo, para quem se destina o desenvolvimento prometido, já que uma simples sondagem em áreas alagadas com o mesmo intuito (e mesmo discurso) no passado mostrará que as populações ribeirinhas permanecem estagnadas, se não piores em relação ao período anterior ao suposto desenvolvimento.

Além disso, mesmo que os povoados inundados pelas represas costumem ser bastante simples, sua população cria raízes – comprovadas pelas histórias narradas em Javé – que não merecem ser simplesmente afogadas por um lago de usina.

Ainda que houvesse um programa realmente sério de realocação dos moradores, nuances do local de origem são insubstituíveis, como a personagem do filme que lembra o cemitério da cidade, onde seus antepassados estão sepultados, e agora será submerso para o progresso de cidades e pessoas que aquela população sequer conhece.

Energia

Gerar energia é uma necessidade tão grande quanto os problemas que ela gera, no Brasil e em vários outros países.

Se a demanda por energia e o potencial hidrelétrico devem ser unidos, o mínimo que se espera – para não entrar no imenso impacto ambiental que uma represa causa – é que o desenvolvimento gerado pela nova usina chegue de fato à população que sacrificou suas terras, suas histórias, suas lembranças, para que grandes centros urbanos pudessem seguir suas vidas como se nada diferente tivesse acontecido.

Para que as pessoas tenham histórias, é necessário condições de vida para isso. De forma que não sobrevivam para trabalhar, mas vivam a vida com o direito de extravasar.

Com as discussões sobre a usina de Belo Monte bastante acaloradas, com ambos os lados defendendo bravamente seus argumentos, vemos que não há decisão unânime e plenamente satisfatória, mas os moradores de Javé nos mostram a discrepância de forças entre a população. Só tinham suas divertidas e encantadoras histórias. E todo o aparato governamental, capaz de convencer que os impactos de uma hidrelétrica são pequenos.

Claro que o filme é um recorte fictício baseado em tantos povoados que passaram e ainda vão passar por situações semelhantes, mas aquele povo passional e divertido sem dúvida é mais esclarecedor que a recente guerra de vídeos sensacionalistas, pró e contra Belo Monte. 

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